A natureza eterna e transcendente da alma

Então, o abençoado Senhor disse:

Tu tens estado te lamentando por aqueles que não merecem lamentações! Ainda assim, pronuncias palavras de erudição. Os que são verdadeiramente sábios não se lamentam nem por aqueles que estão vivos e nem por aqueles que já passaram.

(BG, II:11)

“Teu coração derrama lágrimas de sangue por aqueles cuja morte não merece tristeza! Justificas tua tristeza com argumentos provenientes da erudição das eras. Mas os verdadeiramente sábios, imbuídos do conhecimento celestial, não permitem que seu discernimento seja manchado pela tola ilusão de ver como realidade a inquietude chamada vida e o aparente sono sem fim na escuridão do túmulo, chamado morte.”

Falar como um sábio e comportar-se como um ignorante: isso não é contraditório? O devoto sob a influência da ilusão experimenta um estado no qual ele é capaz de pronunciar palavras de sabedoria ainda que esteja agindo como um simplório. Noviços-yogis podem falar como se estivessem calmos e cheios de sabedoria, enquanto na verdade são motivados pela inquietude. Entre as palavras de uma pessoa assim e o que ela realmente é há uma vala intransponível. Não se deve ser um hipócrita em nada. Deve existir uma conexão de igualdade entre a vida de um indivíduo e a expressão de seus pensamentos.

Um devoto que está mais disposto a abandonar as elevadas alegrias da alma do que a destruir os amados inimigos sensoriais pode, na verdade, assumir a afetação de um homem de sabedoria e renúncia. Não obstante, seu estado é de desânimo e “pés frios”. Fraqueza mental nunca é sabedoria, e sim um sinal de profundo apego subconsciente ao ego e a seus prazeres ilusórios. Aquele que não consegue permanecer firme no comportamento correto diante de um teste do Todo- poderoso perde o direto de falar como um sábio.

E com relação àquelas muitas pessoas que, enquanto falam palavras de sabedoria, estão afundadas em misérias e preocupações impróprias e de sua própria criação? Diante da menor dificuldade – seja, por exemplo, perder o café da manhã, o almoço ou jantar – sua calma é agitada. O teste da sabedoria de um homem é sua equanimidade. As pequenas pedras que são jogadas no lago da consciência não devem pôr todo o lago em comoção.

A moral aqui é que se deve abandonar aquele estado mental onde se age como Jerkyll-and- Hyde, falando como um sábio e agindo como um ignorante. Esta dualidade tem que ser evitada, e para isso se deve agir sabiamente tanto quanto falar como um sábio. O devoto iluminado sincroniza suas ações com suas palavras, e segue o bom conselho que pode muitas vezes dar aos outros!

Esteja ancorado no Imutável
Para abandonar a vida dupla de ignorância, o devoto não deve ficar agitado com as mudanças inquietas da vida, nem temeroso da calma momentânea da assim-chamada morte (a suspensão da atividade física). É isso que quer dizer a referência ao sábio que não se lamenta nem pelos vivos nem pelos mortos. O sábio não se entrega à tristeza por coisas que são inevitavelmente evanescentes e mutáveis. Aqueles que sempre choram e reclamam que a vida é cheia de amarguras revelam a estreiteza de suas mentes. Na consciência de Deus, todas as coisas mundanas são futilidades, porque não são eternas. As mudanças angustiantes na vida e na morte parecem reais por causa do sentido de posse do homem – “meu corpo, minha família, minhas aquisições.” Este mundo é de Deus; a morte nos lembra que nada nos pertence, com exceção do que somos como almas. Estar identificado com o corpo e com seus arredores é encontrar-se repetidas vezes com o inesperado – as assustadoras mudanças que curvam o indivíduo numa submissão involuntária.

Tradução não oficial de trecho do livro God Talks With Arjuna – The Bhagavad Gita (Deus fala com Arjuna – A Bhagavad-Gita) – de Paramahansa Yogananda (pág. 169 do original)

 

God Talks With Arjuna está à venda pelo site da Livraria da Sede Central.